A última década (2020-2030) para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU já era desafiadora. Em 2019, o Secretário Geral da ONU convocou todos os setores da sociedade para a Década de Ação, para se mobilizarem em três níveis, global, local e regional, com o objetivo de avançar nas ações necessárias para o alcance dos ODS. Se a velocidade e escala das ações continuasse no ritmo dos primeiros cinco anos, a Agenda 2030 não seria implementada como previsto. Mas aí veio a pandemia.
A pandemia impactou o mundo globalmente e os seus efeitos atingiram todos os 17 ODS, não somente inviabilizaram ou diminuíram avanços, como também comprometeram as conquistas realizadas até então, em diferentes aspectos. Agora a recuperação da crise gerada pela pandemia e a redução de riscos futuros precisam ser incorporados aos esforços de implementação da Agenda 2030.
ODS n1 - Erradicação da Pobreza
Não por acaso, a erradicação da pobreza, é o primeiro ODS. Erradicar a pobreza, em todas as suas formas, segue como um dos principais desafios que enfrenta a humanidade e o maior desafio global para o desenvolvimento sustentável.
O número de pessoas em extrema pobreza caiu mais da metade em 1990 e 2015, de 1.9 bilhão para 836 milhões, mas mais de 700 milhões de pessoas ainda vivem com menos de US$ 1,90 por dia, sem acesso à alimentação, água potável e saneamento (PNUD).
O crescimento econômico acelerado de alguns países como China e Índia tiraram milhões de pessoas da pobreza, mas o crescimento foi limitado em outras regiões, como o sul da Ásia e África subsaariana, que compreendem 80% das pessoas mais pobres do mundo. Vale destacar que as mulheres estão mais sujeitas a viverem na pobreza do que os homens, em função da falta de acesso a trabalho remunerado e educação.
Para acabar com a pobreza em todas as dimensões até 2030, de acordo com o PNUD, é preciso focar nos mais pobres e mais vulneráveis, aumentar o acesso básico a serviços e apoiar comunidades afetadas por conflitos e desastres relacionados ao clima.
Extrema pobreza e pandemia
A ONU considera em situação de “extrema pobreza” as pessoas e famílias que vivem com menos de 1,9 dólares por dia, cerca de 10 reais. No Brasil, mesmo antes da pandemia, a extrema pobreza já era crescente desde 2014, chegando a 13,5 milhões de pessoas (IBGE, 2019). .
Segundo alerta relatório da ONU (2020), o percentual de pessoas que vivem em extrema pobreza nos países mais pobres do mundo aumentará em torno de 34 milhões de pessoas.
Esses países foram capazes de enfrentar os desafios de saúde da pandemia devido à sua experiência com epidemias e demografia mais caracterizada por populações jovens e menos povoadas, mas as consequências econômicas foram desastrosas.
O Banco Mundial aponta que 5,4 milhões de brasileiros poderão ser lançados a extrema pobreza devido à pandemia.
Essa situação representa um retrocesso no que se refere ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, impactando também outros objetivos relacionados à educação, saúde e igualdade de gênero.
É necessário que todos os setores da sociedade se mobilizem em torno de políticas que garantam o atendimento aos objetivos e metas dos ODS. Nesse sentido, as iniciativas em torno da erradicação da pobreza serão fundamentais.
Referências:
ONU, 2019 Década de ação para cumprir as metas globais
ONU, 2020 Impact of the Pandemic on Trade and Development
Banco Mundial, 2020. A Economia nos Tempos de Covid-19
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