No dia 25 de Julho, além do retorno internacional ao primeiro encontro de mulheres negras latino-americanas e caribenhas, que aconteceu há exatos 30 anos na República Dominicana, ficou decidido que, no Brasil, celebramos na mesma data o Dia Nacional de Tereza de Benguela e o Dia da Mulher Negra. A decisão foi tomada a fim de trazer nossa atenção para a história brasileira que foi construída intensamente por mulheres negras.
Hoje, nós olhamos para a história do outro, uma história que quase sempre muda a perspectiva daquilo que nos é oferecido nas escolas e mídia como a única verdade a ser contada. Logo, aproveitamos o dia não apenas para saudar nossas ancestrais (todas elas) e celebrar as nossas vidas enquanto latino-americanos, mas também para nos fazer refletir sobre a luta contra o racismo e misoginia nos dias de hoje.
Dados de 2020 do Instituto Brassileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que mais de 32% das mulheres pretas ou pardas entre 15 e 29 anos não se encontravam em empregos ou em escolas. Esse número impressiona principalmente comparados com as mulheres brancas, cujo índice de desocupação não passa dos 21%. Esses dados se tornam ainda mais drásticos com o avanço da pandemia de COVID-19 quando, pelo menos, 35,9% das mulheres chefes de lares vivenciaram a insegurança alimentar em suas casas.
A misoginia, o racismo e a transfobia até os dias de hoje, são fascismos cristalizados na nossa cultura, cicatrizes abertas na história de nosso continente. Porém, toda essa dor, além de doer, só fortalece a identidade da mulher negra, latino-americana e caribenha, pois, ainda que tratemos de corpos extremamente diferentes entre si, estamos estamos falando de um mesmo sangue que escorre.
É desse sangue, nosso sangue, que vamos seguir o exemplo de Tereza e construir novos mundos, novos quilombos. Vamos reinar.
Afinal, quem foi Tereza de Benguela?
“A Rainha Negra no Pantanal” como versa a escola de Samba Unidos do Viradouro resume bem quem foi essa heroína nacional que durante anos sofreu com o apagamento histórico proposto pelo sistema educacional do Brasil.
Tereza de Benguela, cuja naturalidade não se sabe ao certo, foi uma mulher negra que se tornou líder do Quilombo Quatere, localizado onde hoje seria o Mato Grosso, no século 18. Lá, ela conseguiu abrigar mais de 100 pessoas negras e indígenas que resistiam à escravidão.
A história dessa personagem, assim como de muitas outras, sofreu retaliações e tentativas de apagamento, mas nós não vamos esquecer. A luta continua.